Sucessão familiar é muito mais do que "passar a vendinha" para o filho

Sucessão familiar é muito mais do que “passar a vendinha” para o filho

ter 15 fev 2022

Se a empresa tem que ter a “cara do dono”, é inevitável que “mude” de cara após um processo sucessório. Os filhos podem ser melhores ou piores que os pais; idênticos, jamais. E, ao contrário do que se possa imaginar, o tema da sucessão familiar é algo que afeta a economia do Brasil como um todo. Afinal, as empresas familiares brasileiras são responsáveis por 65% do PIB do país e por 75% dos empregos.

“Muitas pessoas pensam numa empresa familiar com a vendinha do ‘seu’ Manuel. Mas se lembrar do Itaú, que foi uma companhia familiar até pouco tempo. Existe uma relevância grande desse tipo de empresa no mundo todo”, afirma Fernando Lamourier, diretor executivo da administradora de consórcios Multimarcas Consórcios, empresa fundada pelo pai.

Ele falou sobre o assunto no podcast Sala de Negócios, da Mazars.

Sobre sua trajetória profissional, que deve culminar com a ascensão à presidência da companhia, ele diz que o importante é continua aprendendo. “Tomei porrada e continuo tomando, porque é assim que a gente, graças a Deus, vai crescendo!”, confessa.

Grande parte das experiências de Lamourier foi adquirida fora da empresa da família, que foi comprada pelo pai, que era funcionário da Multimarcas. Fernando era menino. “Sempre teve um encaminhamento dos filhos [dele e do irmão mais velho] de seguir para o negócio, mas minha visão era ir para o mercado, para a vida real, e entender as relações de trabalho sem grau de parentesco”, revela.

Quis então se preparar tecnicamente e profissionalmente para o desafio de suceder o pai na presidência, e acabou dando consultoria para empresas grandes. “Queria abraçar grandes problemas e aprender como resolvê-los. Eu sempre quis somar e não entrar como estagiário só para aprender”, diz.

“Tenho completa consciência do meu privilégio. Sou uma pessoa com oportunidades que poucos tiveram no Brasil. A partir desse privilégio, tenho uma necessidade de fazer acontecer. Tenho que ser o que mais trabalho, o que mais se preocupa. Não acredito em meritocracia. A responsabilidade é minha e preciso entregar um legado”, afirma.

Ele não se conformou em apreender o que o pai fez. Ambiciona ir muito além e tem como modelo o Magazine Luiza, que está na terceira geração familiar. “Além do legado, quero empreender.”

Padrões singulares

Embora a Multimarcas esteja num processo de profissionalização, Lamourier lembra que há três padrões definidores de uma empresa familiar: uma visão de longo prazo; um zêlo maior na hora de tomar risco; e muita identificação com os funcionários.

“Uma empresa de mercado busca sempre bater meta já no próximo ‘quarter’. Para uma empresa familiar, a meta é o centenário, quer fazer 100 anos!”, comenta. A Multimarcas já fez 43 anos de atividade e, segundo Lamourier, é mais conservadora em essência. “Mas sabe que tem a pele em jogo e que vai jogar com coração”, diz.

Segundo o empresário, a Multimarcas tem funcionários com mais de 35 anos de casa. “A vida dele é a empresa.”